O tédio fez Cecília se perder em devaneios sobre o relógio em seu pulso. Detalhes absurdamente banais lhe chamaram atenção: o traço dos ponteiros, as linhas desenhadas embaixo dos números, as cores, o ritmo…
Tique-taque, tique-taque…
Um relógio nada mais é do que uma roda do tempo, constatou. Roda? “O tempo rodou num instante as voltas do meu coração”, cantou Chico Buarque no fundo de sua cabeça. Em segundos, um acontecimento, um detalhe, uma percepção podem mudar o que antes era certeza no coração.
As pupilas de Cecília dilataram. Subitamente, ela tomou consciência de que uma das voltas feitas pelos ponteiros de seu coração alterara de maneira irreversível seus sentimentos sobre uma situação.
Cecília respirou fundo.
Nada será como era há 30 segundos.
Tique-taque, tique-taque…
O barulho do relógio a faz voltar para o momento presente. Seus olhos doem com a claridade da sala.
O tempo volta a correr normalmente.
Lindo demais!